1/14/2009

Resumo - 2

E fomos para Roraima. O caminho foi um dos mais legais que havíamos passado até entao, atravessando floresta fechada, motoristas nao muito acostumados com o conceito de ultrapassagens seguras e coisas do tipo. Demos carona pra um fiscal do posto de fiscalizaçao da polícia até seu sitiozinho e, como recompensa, ganhamos um galao de três litros de água de côco lá do sítio mesmo. É o karma, diriam os Dadas.

Logo depois, ao entardecer, atravessamos a reserva indígena Waimiri-Atroari, na divisa dos estados de Amazonas e Roraima. A floresta, cerrada, chegava a engolir uma das pistas, e as copas das árvores eram tao densas que quase cobriam toda a estrada. Só ali foi cair a ficha que realmente estávamos na floresta amazônica; logo apagamos as luzes do carro, encostamos num canto da estrada, escutamos os barulhos que vinham do mato e vimos o escuro da floresta por baixo do céu estrelado.

Abastecemos no primeiro posto de gasolina depois da reserva, já em Roraima. Ficamos amigo do frentista, um cabloco que adorava contar história de caçada e pescaria do pessoal ali da regiao. Ele nos mostrou um lugar para pendurar rede, um banheiro com chuveiro e resolvemos ficar por lá mesmo. No outro dia saímos cedo para Boa Vista, passeamos pelo centro e pela orla e decidimos ir pra fronteira com a Guiana, que fica a apenas 100 km dali. O plano era passar pelo menos uma manha na cidade guianesa de Lethem para depois decidir se iríamos tentar cruzar o pais todo para chegar à capital, Georgetown, ou se dali iríamos direto pra Venezuela.

E assim fizemos. Chegamos em Bonfim - a cidade fronteiriça - à noite e nas primeiras horas do outro dia já estávamos atravessando de balsa o rio Tacutu, entrando em território guianês. Lá conhecemos de tudo um pouco: uma guianesa ameríndia que já havia morado em Boa Vista, um motorista de caminhao indiano que nos prometeu uma carona gratuita até Georgetown, um paraibano meio traficante comprando tênis quase sem imposto e por aí vai.

A impressao que ficou de Lethem é de um surrealismo sem precedentes, tanto pela diversidade cultural que encontramos lá - negros, indianos e ameríndios falando inglês com um sotaque quase irreconhecível e uma língua criola estranhíssima - quanto pela paisagem urbana enlameada da cidade de Lethem (se é que podemos chamar algumas outlets de tênis da Nike espalhadas por um descampado barrento de "paisagem urbana").

No final das contas e de horas de indecisao, acabamos indo pelo mais careta e recusando a carona do motorista indiano pra Georgetown na manha seguinte. Primeiro porque a idéia de um dia e meio de viagem num caminhao cabine simples com mais três pessoas numa estrada de terra (lama) praticamente intransitável nao parecia tao agradável. Além do mais, a hospitalidade sem igual dos guardas de fronteira deixou claro que eles nao nos queriam no lado de lá. E pra completar, estávamos com pressa para chegar em Caracas - o Guilherme iria ter que voltar mais cedo do estágio, entao cada dia perdido era valioso.

Enfim, chances aparecem pra quem procura, entao ainda espero algum dia voltar praqueles lados e terminar o que já foi começado. (Continua)

Lethem, Guiana (mas sem a emoçao típica da época de chuva).

6 comentários:

... disse...

"(...)por baixo do céu estrelado" - não tem preço!

Rodrigo disse...

Deixa eu usar minha licença poética por favor? :p

Anônimo disse...

eu achei bonito!
;)
escrito aqui pareceu mais emocionante do que eu tinha imaginado antes.

Lívia Aguiar disse...

achei fino! apesar da frangada no final, às vezes a gente tem que optar pela integridade física.

... disse...

Rods! pode usar sua licença poética a vontade...não tava me referindo a ela! Tava falando do momento msm, de ficar sob a luz das estrelas no meio da floresta! Na minha cabeça é tudo muito lindo; deve ser um momento mto mágico...e que não tem preço!

Saia da defensiva, viu?! =-P

Anônimo disse...

cara... tu é insano