1/21/2009

Le Gran Finale

Saímos de Bonfim na mesma tarde em que decidimos nao adentrar o mar de lama da Guiana. Paramos em Boa Vista apenas pra sacar dinheiro no banco e seguimos viagem através de uma estrada esburacada até Pacaraíma, na divisa com a Venezuela.

Ficamos lá dois dias. Nao que tenha muita coisa de legal a ser visto por lá, ao contrário. Mas é que tivemos alguns probleminhas com a enorme burocracia da alfândega venezuelana e demorou um pouco até conseguirmos por fax todas as fotos, documentos e autógrafos do pai do Guilherme - o dono do carro - que eles queriam.

Mas uma coisa que curti foi o clima de cidade de fronteira de lá, que ainda nao tinha visto em nenhuma outra no Brasil: tinha colombianos, venezuelanos, cerveja Polar em todo boteco e meninos brincando de beisebol na rua. No comércio, a moeda oficial é o bolívar, e aceita-se o real só por obrigaçao. E o mais legal: do lado de lá da fronteira existe o único posto de gasolina em 300km de raio, vendendo o precioso combustível a meros R$0,86 o litro.

Abastecemos um pouco, o suficiente para chegarmos com folga até o próximo posto em território venezuelano. Aí, depois de resolvida toda a burocracia e enchecao de saco, começamos a aproveitar as vantagens de ter entrado de carro na Venezuela. Aqui a gasolina custa, pasmem, Bs.F 0,07 o litro, ou seja, 3,5 centavos de real. É, praticamente 90 vezes mais barata do que chegamos a pagar em Cuiabá (R$2,95 o litro).

E outra grande comodidade de viajar de carro - além do custo zero com combustível - é a mobilidade. E isso é importante num lugar tao exuberante quanto a Gran Sabana, a regiao sul do país que faz fronteira com o Brasil. Lá fica o Parque Nacional Canaima, que cruzamos de baixo pra cima, parando em alguns dos vários mirantes e cachoeiras localizados bem na beira da estrada principal. Decidimos por unanimidade que esse foi de longe o pedaço de estrada mais bonito que já havíamos percorrido.

Aproveitamos a chance pra pendurar a rede numa pequena aldeia indígena que controla o acesso a uma das cachoeiras, bem no começo do parque. No outro dia, dirigimos mais uns 400 quilômetros, cruzamos de balsa o rio Orinoco no pôr do sol em Ciudad Guayana e dormimos a 100km dali, em Maturín.

Havíamos decidido dar uma pequena volta pra aproveitar um pouco o mar. e assim fizemos Ao invés de ir direto pra Caracas, atravessamos uma serra por uma estradinha sinuosa até chegarmos em Cumaná, a primeira cidade ainda existente fundada por Colombo na América continental. E lá fizemos quem sabe a segunda viagem mais bonita até entao, numa estrada pista simples espremida entre a serra e o verde-azul indescritível do Mar do Caribe.

Paramos para nadar num povoadinho que nem sabemos o nome ali perto - pra chegar na praia, tivemos que atravessar o quintal de uma das casinhas a beira-mar onde já decidi de antemao que irei passar a velhice. Paramos também na Playa Colorada, uma praia de areia laranja e vários turistas no meio do Parque Nacional Mochima, no litoral nordeste.

Pra tentar economizar uma noite em hotel, resolvemos esticar e chegar em Caracas na mesma noite. Foi cansativo, mas deu certo. Depois de muitas voltas dentro do bairro El Marques, onde as ruas nao tem nome e as casas nao tem número (sic), conseguimos às 11 da noite chegar na casa do instituto onde estamos hospedados desde entao.

Quando chegamos, lembrei exatamente do momento em que o Guilherme chegou na porta da minha casa no bairro Luxemburgo, em Belo Horizonte. Visualizei a cena e, descendo pela última vez do carro onde morei pelas últimas duas semanas, finalmente caiu a ficha do que havíamos acabado de fazer: 16 dias, 6.500km de aslfato, 900km de água e uma das viagens mais legais da história.

No outro dia, acordei querendo mais.

Gran Sabana, cerrado com tepuis;

E a Playa Colorada - viva o Uninho!

3 comentários:

Lívia Aguiar disse...

Orinoco é de longe o melhor nome prum rio. Assim como Tioticaca põe no chinelo os outros nomes pra lagos do mundo

André disse...

Rod, você é legal demais!

Anônimo disse...

Você é muito barra pesada, cara!