23 horas depois desci do ônibus em Campo Grande. Não entendi ainda até agora porque estava convencido (e até escrevi isso no post abaixo) que a viagem duraria dezesseis horas. Na verdade era pra ter durado vinte, mas como tudo que é bom acaba rápido, acabei sendo premiado com as três extras.
Mas apesar de parecer um pouco demais, a viagem não foi de todo ruim. Li para caralho, vi um nascer de sol espetacular nas plantações de cana perto de Olímpia, SP, reclamei com as velhinhas do ônibus da demora nas paradas, me surpreendi com a água azul da usina de Jupiá, atravessei metade do Mato Grosso do Sul e cheguei na capital exatamente na hora de ver o pequeno amontado de prédios do centro contra o sol poente mas com as luzes já acessas, o que também foi bem legal.
Aliás, estado estranho esse o MS. Aqui é tão reto que dá pra viajar uns 300 km sem se avistar hora nenhuma um morro que seja morro o suficiente para merecer o nome. Isso me fez lembrar de uma história que me contaram sobre umas crianças que nasceram e viveram a vida toda em Palmas, foram passear em Minas e no meio da viagem desceram do carro pra tirar foto de um morro, de tão assombrados que estavam com a novidade.
Campo Grande, como não podia deixar de ser, é uma cidade bastante surreal. Parece Estados Unidos de vez em quando, porque todo mundo mora em casa (mesmo no centro, exceto por aquele amontoadinho de prédios mencionado acima) e as avenidas são largas e cheias de placas enormes na frente de cada loja. Mas uma andadinha na praça principal já dá a impressão de que ainda não saí de Minas, visto o tanto de gente batendo papo e sentada na beirada do passeio, bem aquele clima de cidade do interior mesmo.
Mas o mais legal de lá é o multiculturalismo. Me assustei primeiro quando vi uma mulher de burca fechando uma loja e conversando com o marido e filho em árabe. Depois vi dois hóspedes libaneses no hotel em que durmi. Daí saí pra passear e vi em lugar de destaque numa banca de revistas o jornal Nippo-Brasil. Mas o clímax foi quando entrei na pastelaria Hong Kong - logo ao lado da lanchonete Zhu - e tive que me segurar bravamente para não rir na cara da proprietária, que pediu à cozinheira cara-de-índia um suco de "lalanja e acelola". Foi lá, inclusive, que abri mão temporariamente do meu vegetarianismo e comi uma tortinha de frango com palmito e um empanado de presunto e ovo, pois estava com uma forte suspeita de que minha dieta restritiva de pão-de-queijo e pão-de-forma com geléia tinha alguma coisa a ver com a minha saúde fragilizada.
Sim, eu ainda não contei, mas fiquei doente. Tudo começou com um discreto arranhão na garganta durante a primeira noite que passei dentro do ônibus. A situação piorou durante o dia, quando tive quase certeza que estava com febre e a dor de cabeça me impedia de continuar lendo. Cheguei em Campo Grande e me auto-mediquei: um frasco da milagrosa própolis com romã e duas cartelas de um anti-gripal sinistro. Esse último fez efeito quase que imediato, pois durante a noite acordei e minha febre já havia passado. Já a garganta ainda dói, mas a própolis, como todos sabem, tarda mas não falha.
Vim pra Bonito e passei vergonha no ônibus. O motorista, gritando, me chamava de mentiroso e ameaçava desviar o caminho para parar no posto da polícia rodoviária, pois eu tinha perdido o tiquete e recusava pagar novamente. Mas não deixei barato; revidei, respondi que ele poderia me chamar de tudo menos de mentiroso e ladrão e que eu havia pago pelo bilhete e ele próprio fora quem o recolheu da minha mão e não devolveu. Daí fui mostrar visualmente como o papelzinho não estava na minha pochete ou nos meus bolsos quando coloquei a mão sobre o bolso esquerdo e escutei aquele barulho típico de papel amasado. Tá, sou idiota, mas que ele xingou primeiro xingou.
Cheguei aqui e fiz amizade com um holandês de nome estranho, que se escreve Gjis mas se pronuncia, de acordo ele próprio, igual aquela "moeda antiga que vocês tinham no Brasil antes do Real". Com muito esforço, consegui entender que a moeda a qual se referia era réis, e desde então o chamo assim. Fato curioso: o cara já viajou toda a metade sul do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina incluindo capitais, e falou que a cidade mais legal de todas é Ciudad del Este, do lado de lá da fronteira do contrabando. Se ele é sádico ou simplesmente engraçadinho eu ainda não descobri, mas assim que souber conto.
Alugamos duas bicicletas sem marcha (cinco reais mais baratas) e fomos pro Balneário Municipal. Lá ficamos vendo os peixes, assistindo as araras vermelhas e azuis voar de lá pra cá e viajando na água clarinha, azulzíssima, que me lembrou bastante Tahoe, onde morei ano passado nos Estados Unidos. Na volta, também vimos uns três tucanos e um viado-campeiro morto na estrada, atropelado.
Na correria, esqueci de trazer o cabo USB da câmera, então não dá pra dar upload nas minhas próprias fotos. Mas vão umas decorativas de qualquer jeito, pro blog ficar colorido. Posto mais amanhã ou depois.
Mas apesar de parecer um pouco demais, a viagem não foi de todo ruim. Li para caralho, vi um nascer de sol espetacular nas plantações de cana perto de Olímpia, SP, reclamei com as velhinhas do ônibus da demora nas paradas, me surpreendi com a água azul da usina de Jupiá, atravessei metade do Mato Grosso do Sul e cheguei na capital exatamente na hora de ver o pequeno amontado de prédios do centro contra o sol poente mas com as luzes já acessas, o que também foi bem legal.
Aliás, estado estranho esse o MS. Aqui é tão reto que dá pra viajar uns 300 km sem se avistar hora nenhuma um morro que seja morro o suficiente para merecer o nome. Isso me fez lembrar de uma história que me contaram sobre umas crianças que nasceram e viveram a vida toda em Palmas, foram passear em Minas e no meio da viagem desceram do carro pra tirar foto de um morro, de tão assombrados que estavam com a novidade.
Campo Grande, como não podia deixar de ser, é uma cidade bastante surreal. Parece Estados Unidos de vez em quando, porque todo mundo mora em casa (mesmo no centro, exceto por aquele amontoadinho de prédios mencionado acima) e as avenidas são largas e cheias de placas enormes na frente de cada loja. Mas uma andadinha na praça principal já dá a impressão de que ainda não saí de Minas, visto o tanto de gente batendo papo e sentada na beirada do passeio, bem aquele clima de cidade do interior mesmo.
Mas o mais legal de lá é o multiculturalismo. Me assustei primeiro quando vi uma mulher de burca fechando uma loja e conversando com o marido e filho em árabe. Depois vi dois hóspedes libaneses no hotel em que durmi. Daí saí pra passear e vi em lugar de destaque numa banca de revistas o jornal Nippo-Brasil. Mas o clímax foi quando entrei na pastelaria Hong Kong - logo ao lado da lanchonete Zhu - e tive que me segurar bravamente para não rir na cara da proprietária, que pediu à cozinheira cara-de-índia um suco de "lalanja e acelola". Foi lá, inclusive, que abri mão temporariamente do meu vegetarianismo e comi uma tortinha de frango com palmito e um empanado de presunto e ovo, pois estava com uma forte suspeita de que minha dieta restritiva de pão-de-queijo e pão-de-forma com geléia tinha alguma coisa a ver com a minha saúde fragilizada.
Sim, eu ainda não contei, mas fiquei doente. Tudo começou com um discreto arranhão na garganta durante a primeira noite que passei dentro do ônibus. A situação piorou durante o dia, quando tive quase certeza que estava com febre e a dor de cabeça me impedia de continuar lendo. Cheguei em Campo Grande e me auto-mediquei: um frasco da milagrosa própolis com romã e duas cartelas de um anti-gripal sinistro. Esse último fez efeito quase que imediato, pois durante a noite acordei e minha febre já havia passado. Já a garganta ainda dói, mas a própolis, como todos sabem, tarda mas não falha.
Vim pra Bonito e passei vergonha no ônibus. O motorista, gritando, me chamava de mentiroso e ameaçava desviar o caminho para parar no posto da polícia rodoviária, pois eu tinha perdido o tiquete e recusava pagar novamente. Mas não deixei barato; revidei, respondi que ele poderia me chamar de tudo menos de mentiroso e ladrão e que eu havia pago pelo bilhete e ele próprio fora quem o recolheu da minha mão e não devolveu. Daí fui mostrar visualmente como o papelzinho não estava na minha pochete ou nos meus bolsos quando coloquei a mão sobre o bolso esquerdo e escutei aquele barulho típico de papel amasado. Tá, sou idiota, mas que ele xingou primeiro xingou.
Cheguei aqui e fiz amizade com um holandês de nome estranho, que se escreve Gjis mas se pronuncia, de acordo ele próprio, igual aquela "moeda antiga que vocês tinham no Brasil antes do Real". Com muito esforço, consegui entender que a moeda a qual se referia era réis, e desde então o chamo assim. Fato curioso: o cara já viajou toda a metade sul do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina incluindo capitais, e falou que a cidade mais legal de todas é Ciudad del Este, do lado de lá da fronteira do contrabando. Se ele é sádico ou simplesmente engraçadinho eu ainda não descobri, mas assim que souber conto.
Alugamos duas bicicletas sem marcha (cinco reais mais baratas) e fomos pro Balneário Municipal. Lá ficamos vendo os peixes, assistindo as araras vermelhas e azuis voar de lá pra cá e viajando na água clarinha, azulzíssima, que me lembrou bastante Tahoe, onde morei ano passado nos Estados Unidos. Na volta, também vimos uns três tucanos e um viado-campeiro morto na estrada, atropelado.
Na correria, esqueci de trazer o cabo USB da câmera, então não dá pra dar upload nas minhas próprias fotos. Mas vão umas decorativas de qualquer jeito, pro blog ficar colorido. Posto mais amanhã ou depois.
A arara, mas só vi de longe e era só uma
PS: tomei um susto cabuloso ao tentar ligar o aquecedor da água do chuveiro. O aquecimento é a gás, mas ninguém me ensinou como ligava, então fui fuçar e de repente uma explosão gigantesca saiu da caixinha e queimou grande parte dos meus pêlos manuais do lado esquerdo da mão direita, principalmente os do dedão. Agradeço a Deus por não completar a amputação, se é que ele lê este blog.
3 comentários:
mais uma vez: não vai morrer cedo não, tá? e nem virar mendigo de novo. presta atenção na sua passagem da próxima vez. isso me lembrou a gente naquele ônibus na grécia.
enfim, se cuida. bom proveito não preciso nem falar, que já sei que vc está fazendo.
e rá! sabia que esse vegetarianismo não ia durar muito!
beijo.
uaghuhaha, quê que rolou no ônibus na grécia? já esqueci!
o motorista e o trocador começaram a brigar e a gritar e mandaram a gente descer no meio do caminho, na volta do templo de poseidon.
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