Chapada dos Guimarães, um dos lugares mais legais da história
Being Being. Há!
Yoga, Venezuela, cooperativas. É, essas coisas realmente não faziam parte do meu pensamento no dia-a-dia antes de eu conhecer o pessoal da Psicologia da UFMG que está indo. Mas isso é papo pra depois, talvez quando chegarmos lá no outro lado do continente. Agora o que importa é Brasília, nossa primeira parada rumo ao norte onde iremos chegar daqui a umas doze horas ou algo do tipo.
Stay tuned for news.
Agora já escrevo da cadeira da minha sala de estar, de volta em Belo Horizonte. Mas acho que a essa altura isso não deve ser novidade pra ninguém, né?
Então tá, vamos ao resumo dos últimos dias de viagem que provavelmente quebraram o recorde, tanto em intensidade quanto em excentricidade. Em ordem cronológica, minhas impressões:
1) Sabem aquela música que fala que a gente pode mudar de idéia e falar o contrário todo hora? Pois então, o lago Titicaca realmente é lindo (do lado da Bolívia, pelo menos). O passeio na Ilha do Sol me surpreendeu positivamente e foi muito louco mesmo com toda a má vontade que eu tava antes de ir, já esperando que ia ser bem banal. A vista das encostas íngremes cortadas em curvas de nível e cobertas da típica vegetação amarelada em contraste com o azul do lago e o branco das montanhas nevadas da Cordilheira Real lá atrás é incrível. Fiquei até com dó que, por motivos logísticos, tive que ficar pouco tempo e não pude dormir lá, mas a vida é feita de escolhas e é isso aí.
2) Bem corridamente, fui pra La Paz e rodei como um louco as ruas dessa capital. Adorei. O ar de cidade grande misturado com a originalidade da vida dos índios que moram lá criam uma atmosfera muito legal. Por exemplo, você caminha dois quarteirões da avenida principal - cheia de executivos de terno e prédios de vidro - e chega no mercado de feitiçaria, onde as índias vendem cestas cheias de fetos de lhama, incenso anti-macumba e ervas pra dor-de-barriga.
3) Agora sim posso afirmar que fiz a coisa mais legal da minha vida. Carreguei mochila pesada, usei grampão no pé, casaco de neve e picareta de gelo, dormi num refúgio na base da galeira, acordei às 1 da manhã, vomitei biscoito de goiaba, caminhei por dois dias e masquei muita coca pra conseguir subir o Huayna Potosi, um pico que fica nos arredores de La Paz e que tem 6088 metros de altitude. A subida foi osso, mas descer foi mais difícil pelo alto tempo pelo qual já estava exposto à ainda mais alta altitude: cheguei no refúgio completamente grogue, rindo sem parar, respirando de boca aberta e sem conseguir formular uma frase completa nem em inglês ou espanhol. Uhu!
4) Mas a viagem de volta conseguiu ser ainda mais épica. Peguei um vôo de La Paz pra Santa Cruz porque só tinha dinheiro pra pagar por esse trecho. Dormi lá e fiquei um dia inteiro esperando pelo ônibus pra fronteira que só sairia cinco da tarde - andei pela cidade inteira e vi o novo filme do Batman no cinema (muito bom, por sinal). O ônibus acabou saindo só às sete, e a viagem que era pra demorar 15 horas demorou 38. Sim sim, 38! Motivos: atolamento, teto quebrado, batida lateral, eixo quebrado, motorista cansado e uma possível câmera escondida do Serginho Mallandro que eu não vi, mas tenho convicção quase inabalável que deveria existir tendo em vista a comicidade forçada e sutil presente durante toda essa batalha. Da fronteira, já emendei o ônibus de Corumbá pra Campo Grande e de lá pra BH. Cheguei torto, mas feliz.
E, assim, a viagem acabou (mas não o blog).
Isso significa que chegarei em casa na terça-feira, e daí posto as notícias dos últimos dias, desde o lago Titicaca até o Huayna Potosí. Há!
Creio que substimei Machu Picchu enormemente. Culpa daquela foto batidaça das ruínas com o Pão de Açúcar atrás, que de tantas vezes repetida acabou mais atrapalhando que ajudando. Fez o lugar parecer simples demais, normal demais, acho.
Aeroporto de ET? Sistema de irrigaçao subterrâneo? Alucinaçao coletiva? Teorias conspiratórias? Nao sei, mas o vôo foi sensacional; durou cerca de meia hora e foi possível ver pelo menos umas 15 figuras grandonas e reconhecíveis, sem contar a quantidade quase infinita de traços e riscos aparentemente sem sentido que cortam esse pedaço do altiplano peruano.
O único revés foi meu estômago de moça, que quase me fez pedir penico em pleno vôo. Imagina que lindo seria, eu vomitando no painel de controle do teco-teco no meio do nada, blé. Fiquei mareado ainda por muito tempo, mas a tradicional coca-zero nao traiu a confiança e já estou praticamente recuperado.
O passeio custou os olhos da cara, mas acho que valeu a pena. Destaque para a confusao que arrumei na madrugada/manha: cheguei em Nasca as 3 da matina, cochilei um pouco na rodoviária até o Carlos, um vendedor de passeios, me levar pra ir dormir no sofá da agência dele, enquanto ainda nao estava aberta. Dormi até as 6 e meia, combinei o preço com o outro Carlos - o chefe, homônimo - e ficamos rodando procurando um caixa-automático até que encontrei duas americanas que me disseram que estavam pagando uns 20 dólares a menos que eu. Desisti de ir com os Carlos e, quando estava indo à agência delas, fui pego no flagra e criei uma espécie de crise diplomática entre as duas companhias. Um dos Carlos gritava com o cara da agência, enquanto o outro e o motorista falavam que eu nao tinha palavra, que palavra de homem valia muito no Peru, que eu teria que pagar dez soles pelo táxi, etc etc. Reclamaram tanto que eu cedi, pois caiu a ficha que eu estava sendo muito mesquinho por meros 10 dólares (que era a diferença real), e acabei indo com a dupla de xarás mesmo.
Mas no fundo, acho que essa confusao só serviu pra coroar minha seqüência maluca de interaçoes com os locais aqui no Peru. Começou em Tacna, na fronteira, quando dois homens ficaram me oferecendo "macoooña" e depois prostitutas. Seguiu pra dentro do ônibus, quando uma senhora sentada do meu lado começou a rir e a me mostrar em seu celular um .gif animado de uma loira mostrando os peitos. Continuou em Arequipa, onde fiz um city-tour sinistro com um estudante de turismo chamado Manuel que no final das contas era traficante pra turista. E teve seu quase-ápice com o senhor da lavanderia, interessadíssimo em saber qual era a idade média de iniciaçao sexual no Brasil.
Arequipa, aliás, é uma cidade maravilhosa, a mais bonita até agora. A vista dos vulcoes e montanhas nevadas em cuja base está localizada é de tirar o fôlego, uma daquelas coisas que é impossível cansar de olhar. E o contraste com os belíssimos prédios e igrejas coloniais impressiona ainda mais. Ainda visitei um museu que guarda a -20 ºC os restos mortais de uma menina inca encontrados no topo de um dos vulcoes dos arredores, o que também foi bastante legal.
Sobre o Chile, nem tenho muito o que falar. Visitei apenas três cidades, e bem rapidamente. San Pedro é bonitinha, as ruas sao de terra batida e tudo gira em torno do turismo, meio no estilo Milho Verde. Calama é um pouco por norte, nao tem nada de muito legal mas é interessante pela sua organizaçao - a rua pra pedestres parece até Europa. E Arica, quase na fronteira, foi meio decepcionante já que é cidade de praia mas o tempo estava horrivelmente nublado.
Hoje mesmo pego o ônibus pra Cuzco. Acho que lá supostamente é pra ser o ponto alto da viagem, já que vou ficar uns quatro dias, encontrar novamente Branco e Joaozinho, sair a noite e beber, ir pra Machu Picchu, etc. Escrevo de lá, e prometo dessa vez inovar o começo do próximo post, aconteça o que acontecer. Abraços!
Mas de qualquer jeito, nao foi o bastante pra desanimar. Saímos do alojamento às cinco debaixo de um frio de -15 graus celsius, chegamos num poço de água termal uma hora depois e, sem pensar duas vezes, desci do Landcruiser, troquei as duas calças e ceroula por um calçao estilo copa-de-70, pulei na água de gorro e fiquei boiando enquanto os pêlos da minha barba congelavam e o sol nascia atrás das montanhas e refletia nos vapores d'água. Simplesmente sensacional.
Ainda passei um aperto depois. Com medo de morrer num choque súbito de hipotermia, esperei uns quarenta minutos antes de sair pra ver se esquentava um pouco lá fora e parava de ventar tanto. Finalmente tomei coragem, me levantei e pisei do lado de fora do poço só pra daí perceber que minha mochilinha com roupa e toalha nao tava mais aonde eu a havia deixado. Pensei na hora que deveria ser alguma brincadeira dos israelitas que estavam viajando comigo, pois eles faziam isso o tempo todo. Fui correndo de calçao no frio infernal até o carro e vi que ele tava trancado e ninguém estava por lá. Dei algumas voltas e o máximo que encontrei foi uma inglesa que tinha rachado o quarto comigo dois dias atrás, que nessa hora nao seria de muita ajuda. Voltei pro poço, procurei um pouco melhor enquanto tentava controlar os calafrios involuntários e finalmente encontrei minhas coisas, num lugar completamente diferente de onde eu tinha posto. Mas aí eu já quase nao precisava da toalha: estava completamente seco, com o cabelo e barbas congelados e quando percebi praticamente nao estava sentindo mais meus dedos do pé, mas consegui evitar a amputaçao por necrose avascular esquentando-os com as luvas e esfregando-os com as maos. No café da manha, encontrei os judeus e eles juraram que nao tinham nada a ver com isso, mas ainda nao acreditei. Isso é que dá viajar sem um frasco de lágrimas de cigano ou dinheiro trocado, pensei.
Talvez esse tenha sido o momento mais legal da minha excursao de dois dias e meio pelas terras áridas do sul da Bolívia, mas o resto também foi maravilhoso. A visao do salar, o maior do mundo, é surreal: de pé sobre uma camada comprimida de sal, a única coisa que dá pra ver é uma imensidao branca e plana que segue infinita até encontrar com as montanhas e vulcoes da cordilheira bem lá no fundo. Vestígios do grande lago que antes ocupava toda essa regiao e deu origem ao deserto, as lagoas também impressionam. A maioria tá congelada essa época do ano, e o branco do gelo em contraste com o amarelo-vermelho da areia e dos picos formam uma combinaçao alucinante. A Laguna Colorada foi a mais legal. A água, por algum motivo, é vermelha, e nao congela toda. Além disso, é lotada de flamingos, aos milhares.
De lá desci pra maravilhosa altitude de 2.500 metros (ar, finalmente!) e agora me encontro em Sao Pedro de Atacama, do lado de cá da fronteira com o Chile. Sempre acho mais legal atravessar fronteiras a pé ou de carro do que de aviao porque dá pra ver melhor as diferenças entre os lugares, e essa travessia nao foi diferente. Passamos a linha, e as trilhas de areia emendadas nos milhares de quilômetros de estrada de terra percorridas por ônibus recauchutados no interior da Bolívia deram lugar a um asfalto maciíssimo e bem sinalizado, e finalmente entrei num veículo que aparentava menos de 10 anos de fábrica desde que saí do Brasil.
Saio de Sao Pedro ainda hoje, com destino a Arica, mais ao norte ainda desse país de uma rua só. Provavelmente também nao durmirei lá, e seguirei direto pra Arequipa, já no Peru. E prometo pra depois um post mais completo sobre a Bolívia, assim que tiver saindo de La Paz, já no final da viagem, ok? Abraços!
Bom, esse vai ser o desafio pra mim mesmo: escrever um post em 15 minutos. Pra isso, um super-resumo cai bem:
Dia 15 de julho: Cheguei em Santa Cruz de La Sierra, fui pro centro, só achei hotel caro, comprei um guia da Bolívia, nao arrumei lugar pra deixar minha mochila, perdi completamente a vontade (se é que ela realmente existia antes) de passar uma noite lá, passeei pelo centro, peguei um ônibus pra rodoviária, no meio do caminho mudei de idéia e comprei passagem pra Sucre, encontrei Joaozinho, Branco e Lipe lá, descobri que eles também estavam indo pra mesma cidade mas em ônibus diferentes, e fomos.
Dia 16 de julho: Cheguei em Sucre lá pelas 10 da manha. Fiz check-in no hostel, tomei um banho (o que foi maravilhoso), escovei os dentes e saí pra passear. Fui na catedral, no mercado, na igreja de la merced, comi uma salteña maravilhosa, encontrei os meninos mais à noitinha e saímos pra comer pizza e beber num barzinho de gringo bem na praça central.
Dia 17 de julho: Acordamos tarde, fiz amizade com o filho do ex-presidente do STF boliviano e fomos lá visitar o antigo local de trabalho do pai dele. Do lado, tem um Arco do Triunfo e uma Torre Eiffel, que obviamente nós subimos apesar da precariedade da estrutura. Depois voltamos pro hostel, pegamos as coisas, encontramos o resto da galera (que os meninos conheceram no trem até Santa Cruz) e pegamos o ônibus pra Potosí, a cidade mais alta do mundo. O trajeto do ônibus, por dizer, foi maravilhoso, e eu tirei um milhao de fotos. Chegamos na cidade um pouco à noitinha, e a altitude nao pareceu fazer nenhum efeito especial a nao ser deixar a gente bebado mais rápido, depois de beber umas cervejas e umas cachaças de uva bolivianas com limao.
Dia 18 de julho: Tive uma das piores noites de sono da minha vida. Acordava toda hora, sem respirar, ofegante, tossindo. Nao tinha ar suficiente no quarto, um dormitorio de dez pessoas. Acordei péssimo, eu e todo mundo que dormiu no meu quarto. A dor de cabeça ainda nao passou, e a tontura também nao. Passeei de manha, comprei um par de luvas, um cachecol e uma passagem de onibus pra Uyuni, e parto daqui a 10 minutos. Devo poder escrever novamente só daqui a uns 4 dias, quando chego no Chile.
Agora estou em Santa Cruz, e devo hoje mesmo pegar o onibus pra La Paz. Tá meio maluco, porque praticamente vim direto de Bonito até aqui e ainda nao durmi em uma cama ou tomei um banho em todo esse tempo, apesar de ter passado uma tarde rodando Corumbá atrás de carteira de vacinacao e guia turistico e metade do dia de hoje passeando aqui em Santa Cruz, ambos debaixo de um sol de rachar.
Mas tá praticamente tudo acertado agora. Chegando em La Paz acalmo um pouco, fico umas 3 noites e as viagens ficarao mais curtas também, porque as distancias serao menores. Daí provavelmente sobrará um tempinho e eu posto direito o que rolou nos últimos dias.
Só dois comentários: "Cem anos de solidao" é muito legal, mas ainda preferi "O amor nos tempos do cólera". E "O alquimista" me decepcionou. Será que todos os livros do Paulo Coelho sao assim?
PS: Me perdoem a falta de tils. Ainda temos que ensinar esses bolivianos a fazerem teclados que prestam.
Mas apesar de parecer um pouco demais, a viagem não foi de todo ruim. Li para caralho, vi um nascer de sol espetacular nas plantações de cana perto de Olímpia, SP, reclamei com as velhinhas do ônibus da demora nas paradas, me surpreendi com a água azul da usina de Jupiá, atravessei metade do Mato Grosso do Sul e cheguei na capital exatamente na hora de ver o pequeno amontado de prédios do centro contra o sol poente mas com as luzes já acessas, o que também foi bem legal.
Aliás, estado estranho esse o MS. Aqui é tão reto que dá pra viajar uns 300 km sem se avistar hora nenhuma um morro que seja morro o suficiente para merecer o nome. Isso me fez lembrar de uma história que me contaram sobre umas crianças que nasceram e viveram a vida toda em Palmas, foram passear em Minas e no meio da viagem desceram do carro pra tirar foto de um morro, de tão assombrados que estavam com a novidade.
Campo Grande, como não podia deixar de ser, é uma cidade bastante surreal. Parece Estados Unidos de vez em quando, porque todo mundo mora em casa (mesmo no centro, exceto por aquele amontoadinho de prédios mencionado acima) e as avenidas são largas e cheias de placas enormes na frente de cada loja. Mas uma andadinha na praça principal já dá a impressão de que ainda não saí de Minas, visto o tanto de gente batendo papo e sentada na beirada do passeio, bem aquele clima de cidade do interior mesmo.
Mas o mais legal de lá é o multiculturalismo. Me assustei primeiro quando vi uma mulher de burca fechando uma loja e conversando com o marido e filho em árabe. Depois vi dois hóspedes libaneses no hotel em que durmi. Daí saí pra passear e vi em lugar de destaque numa banca de revistas o jornal Nippo-Brasil. Mas o clímax foi quando entrei na pastelaria Hong Kong - logo ao lado da lanchonete Zhu - e tive que me segurar bravamente para não rir na cara da proprietária, que pediu à cozinheira cara-de-índia um suco de "lalanja e acelola". Foi lá, inclusive, que abri mão temporariamente do meu vegetarianismo e comi uma tortinha de frango com palmito e um empanado de presunto e ovo, pois estava com uma forte suspeita de que minha dieta restritiva de pão-de-queijo e pão-de-forma com geléia tinha alguma coisa a ver com a minha saúde fragilizada.
Sim, eu ainda não contei, mas fiquei doente. Tudo começou com um discreto arranhão na garganta durante a primeira noite que passei dentro do ônibus. A situação piorou durante o dia, quando tive quase certeza que estava com febre e a dor de cabeça me impedia de continuar lendo. Cheguei em Campo Grande e me auto-mediquei: um frasco da milagrosa própolis com romã e duas cartelas de um anti-gripal sinistro. Esse último fez efeito quase que imediato, pois durante a noite acordei e minha febre já havia passado. Já a garganta ainda dói, mas a própolis, como todos sabem, tarda mas não falha.
Vim pra Bonito e passei vergonha no ônibus. O motorista, gritando, me chamava de mentiroso e ameaçava desviar o caminho para parar no posto da polícia rodoviária, pois eu tinha perdido o tiquete e recusava pagar novamente. Mas não deixei barato; revidei, respondi que ele poderia me chamar de tudo menos de mentiroso e ladrão e que eu havia pago pelo bilhete e ele próprio fora quem o recolheu da minha mão e não devolveu. Daí fui mostrar visualmente como o papelzinho não estava na minha pochete ou nos meus bolsos quando coloquei a mão sobre o bolso esquerdo e escutei aquele barulho típico de papel amasado. Tá, sou idiota, mas que ele xingou primeiro xingou.
Cheguei aqui e fiz amizade com um holandês de nome estranho, que se escreve Gjis mas se pronuncia, de acordo ele próprio, igual aquela "moeda antiga que vocês tinham no Brasil antes do Real". Com muito esforço, consegui entender que a moeda a qual se referia era réis, e desde então o chamo assim. Fato curioso: o cara já viajou toda a metade sul do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina incluindo capitais, e falou que a cidade mais legal de todas é Ciudad del Este, do lado de lá da fronteira do contrabando. Se ele é sádico ou simplesmente engraçadinho eu ainda não descobri, mas assim que souber conto.
Alugamos duas bicicletas sem marcha (cinco reais mais baratas) e fomos pro Balneário Municipal. Lá ficamos vendo os peixes, assistindo as araras vermelhas e azuis voar de lá pra cá e viajando na água clarinha, azulzíssima, que me lembrou bastante Tahoe, onde morei ano passado nos Estados Unidos. Na volta, também vimos uns três tucanos e um viado-campeiro morto na estrada, atropelado.
Na correria, esqueci de trazer o cabo USB da câmera, então não dá pra dar upload nas minhas próprias fotos. Mas vão umas decorativas de qualquer jeito, pro blog ficar colorido. Posto mais amanhã ou depois.
Algumas coisas já começaram dando errado. Carteira de estudante por exemplo não teve como fazer, porque o pessoal da STB tá temporariamente impossibilitada de emitir novas carteirinhas e eles são os únicos que fazem isso em BH. O certificado de vacinação internacional foi outro que deu errado, porque a galera da ANVISA tá de greve, ou seja, vou ter que pegar o meu só na fronteira com a Bolívia mesmo. Também tive um pequeno probleminha em relação ao cartão do Banco do Brasil e estou sendo meio que obrigado a viajar apenas com dinheiro em espécie. Ah, e também teve toda a confusão que deu pra decidir os parceiros de viagem cujo desfecho acabou sendo essa minha viagem solitária. E isso sem contar que apenas anteontem fiquei sabendo através do meu chefe no estágio que tenho que estar de volta a BH no dia 4 de agosto, ao invés do dia 15 como estava planejado.
Mas pra mim isso tudo só quer dizer que a viagem já começou emocionante, e pelo nível que as coisas tão, tudo só tende a melhorar. Afinal de contas, se fosse pra viajar sem preocupações, era muito mais jogo ter comprado um daqueles pacote de duas semanas em Porto Seguro da CVC (gracias juju), né? :)
Espero escrever de novo em Bonito ou Santa Cruz de La Sierra, daqui a três ou quatro dias. Abraços!
Espero que com esse blog consiga resolver ambas questões. Tanto porque serei meio que impelido a escrever sobre as viagens que irei fazendo ao longo da vida quanto porque o próprio fato dele existir poderá servir como incentivo para aproveitar melhor as chances de passar o fim-de-semana em alguma barraca ou quarto de albergue por aí.
Já tive uma experiência com blog de viagens, esse aqui. Mas a intenção do "A Pé ou Voando" é um pouquinho mais ousada, já que não vai se resumir a apenas uma viagem, e talvez por isso suas chances de não ficar tão obsoleto quanto o anterior - segundo o qual ainda estou em Moscou apesar de respirar somente ar brasileiro pelos últimos sete meses - são maiores.
Bom, o monstro foi criado. Agora, é só esperar pra ver se terá vida longa ou não.